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Hegel


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Hegel, por Feinmann, f. de l.


vb. criado em 14/04/2015, 23h19m.


index do verbete
    A burguesia se adonou da coisa-em-si, se apossou de todo o poder, de toda a realidade.

    Tudo que surge, surge para morrer.

    Uma só coisa são a história e o homem que a faz.

    Se a história é o real, ela deveio racionalmente.

todo real é racional, todo racional, real

[Sujeito comunicacional] (Tv): dá forma a uma realidade, a que quer que o mundo veja; é a mirada do império; o sujeito comunicacional funciona aí como se fosse o sujeito constituinte kantiano: constitui a realidade, lhe dá forma e no-la entrega.

“Cada época se define a si mesma conforme a interpretação que faz de Hegel”.

Dialética. A história é um desenvolvimento permanente e dialético, feito por meio de afirmações, negações e superação das negações (o terceiro momento dialético, que contém os antagônicos). A história avança através da negação que as novas formas históricas exercem sobre as antigas.

História com sentido linear. Cada uma das formas dialéticas que a constitui é uma totalidade.

Os pós-estruturalistas e os pós-modernos criticam a ideia de totalidade em ^: não há totalidades na história, que é uma sucessão de fragmentos, um caleidoscópio, e nunca se totaliza numa ideia; essas correntes exaltam o fragmentário.
    ”Si algo tiene nuestra experiencia generacional es que la historia, en efecto, es una historia como catástrofe”
Kant indicava que a burguesia ainda não tinha todo o poder, porque se não não haveria uma coisa-em-si, algo que não pudesse conhecer. No plano político a ideia de Kant se traduz em que a burguesia ainda não se adonou de todo o poder. Mas Hegel é o filósofo da [Revolução francesa], que como fato histórico constitui o apoderamento, pela burguesia capitalista européia, da totalidade do poder político. A isso corresponde, em filosofia, um apoderamento racional da totalidade da realidade.

Por isso para Hegel já não há coisa-em-si, porque a burguesia a conquistou, se apossou de todo o poder, de toda a realidade. Essa apropriação de todo o real é a filosofia de Hegel: uma filosofia que não se detém ante nada, que se apropria da totalidade do real, para a qual não há coisa-em-si.

Descartes falava da 'res extensa', das coisas que estavam fora do 'cogito'; Kant falava do objeto do conhecimento; mas ^ fala da história.

^ é um filósofo idealista /Idealismo/, insiste em partir de um sujeito [1]. Mas diz que o sujeito é o mesmo que a substância, o mesmo que a matéria; a substância é a história, mas a história e o homem se fazem ao mesmo tempo. Os homens fazem a história e a história faz os homens. A substância é sujeito porque está feita pelo sujeito, e o sujeito é substância porque é condicionado e feito pela substância. Essa unidade de sujeito e substância define o pensamento de Hegel.

A substância é a história do desenvolvimento autoconsciente de um espírito, que é realmente o homem na medida em que se vai dando forma através da história. É o espírito absoluto, ideia absoluta, saber absoluto, que é o homem fazendo a sua história.

Todo real é racional, e todo racional é real. A 1ª parte quer dizer que toda a realidade é a expressão de uma razão que se desenvolve, todo o real foi trabalhado pela razão do homem histórico universal. A 2ª parte quer dizer que a razão se realiza na história, a razão não é subjetividade, é realidade, é história, e a história é racional.

dialética do amo e do escravo


    O que o homem deseja?

    Quem cria a cultura?

    Como se desenvolve a dialética histórica no pensamento de Hegel?

    Do idealismo ao materialismo: como pensar os novos sujeitos históricos?

    O que teme morrer antepõe o temor da morte ao seu desejo.

Na 'Fenomenologia do espírito” aparece a 'Dialética do amo e do escravo', que expõe a origem da história, que começa quando se enfrentam dois desejos, duas consciências desejosas.

O animal deseja coisas naturais; o homem deseja desejos, isto é, o desejo de um homem deseja o desejo do outro, deseja que o outro o reconheça como superior, que se lhe submeta.

^ tira a consciência da imanência que tinha no pensamento idealista subjetivo, que via a consciência como uma interioridade. Para ^ a consciência, ao ser consciência desejosa, se expulsa, se projeta para fora.

Surge, então, um enfrentamento, que tem uma resolução porque as duas consciências sabem que se trata de uma luta de morte; a certa altura uma delas tem medo, e antepõe o temor da morte ao seu desejo (o medo de morrer é mais forte que seu desejo de ser reconhecido). Aquele cujo desejo é mais forte que o medo de morrer subjuga ao outro. Este é o amo, aquele o escravo.

O escravo passa a trabalhar para o amo, e fornecer a ele tudo o que necessita. Ao trabalhar a matéria, produz a cultura. Passa a ser mais humano que o amo, que percebe que o reconhecimento que recebeu é de um mero escravo, menos que humano, e, pois, não é reconhecimento válido.

Aqui se vê a dialética: uma consciência nega a outra, que se submete à primeira; surgem amo e escravo; este pratica a negação da negação ao superar o mestre, criando a cultura; no terceiro momento, que é a história humana, a cultura humana, integra toda a dialética: o amo ocioso, o escravo trabalhador, formando parte de uma nova figura histórica.

Em Descartes tínhamos um conhecimento único, absoluto e privativo que o sujeito tinha sobre si; em Kant, o sujeito é transcendental, dá forma ao objeto do conhecimento, que é o mundo da experiência possível, separado do númeno, o mundo da coisa-em-si, incognoscível para a razão; em Hegel a razão vai mais fundo, mais extensamente que nunca, e conhece toda a realidade, porque esta é uma expressão da razão. Há um jogo especular: a realidade é razão e a razão é realidade. Isso é idealismo absoluto.

Hegel expressa o triunfo da burguesia, mas esse triunfo faz surgir um novo sujeito histórico, e alguém tem de pensá-lo, e esse será Marx.



Notas e adendos:

[1] V. isto (pfs.): ^ vê a história como uma sequência coerente, que se desenvolve seguindo um padrão; caminha para a conquista gradual de mais razão e liberdade, até se consolidar na ascensão de um geist (um 'espírito' ou 'mente' guiando a consciência coletiva e as ações individuais). Já que era idealista, para ^ esse geist, que é uma ideia, é fundamental para o mundo. Para um materialista, ao contrário, o que interessa é a modificação nas condições materiais. /f.: A2014m/